Um Laboratório de Inovação Cidadã é, entre outras possibilidades, uma ocasião para diversas pessoas e organizações trabalharem juntas, focadas na realização de um objetivo comum. Em geral a missão central é tirar do papel ou aprimorar um projeto já existente, que podem ir desde um sistema de iluminação residencial de baixo custo até uma plataforma online para mapeamento de espaços culturais, por exemplo – iniciativas sempre de temática relacionada ao tema Participação Cidadã. Equipes multidisciplinares são formadas e reunidas ao longo de um espaço de tempo definido, e podem ou não receber apoio de organizações externas em formato de mentoria e/ou de provenção de recursos (financeiros, materiais, legais) durante suas jornadas de trabalho.

Foto: Innovación Ciudadana / LabicAR / CC-BY-NC

Outro aspecto marcante dos Laboratórios de Inovação Cidadã é uma forte atuação em redes de cooperação, tanto a nível de gestão dos Laboratórios quanto durante as jornadas de trabalho das equipes focadas em seus projetos. Os nodos da rede podem ser instituições da administração pública, universidades, organizações sem fins lucrativos, iniciativa privada e outras.

A escolha de atuar em rede é uma manifestação consciente e propositiva da diversidade de perspectivas e expertises como modo de alcançar o máximo possível de eficácia na solução de necessidades humanas universais.

Uma dessas redes de Laboratórios de Inovação Cidadã é capitaneada pela Secretaria Geral Iberoamericana, e que em com ocasionais parcerias realiza os Labics, esses Laboratórios com prazo definido de duração que citamos no início do texto. Desde 2014, 6 edições foram realizadas (na Colômbia, Brasil, Argentina, México e Costa Rica), impulsionando a realização de 63 projetos.

Foto: Innovación Ciudadana / LabicAR / CC-BY-NC

Em outubro de 2018, nós do Taipa tivemos a oportunidade de participar do LabicAR, realizado na cidade de Rosário, na Argentina. Nessa edição, 10 projetos foram abraçados, envolvendo diretamente quase duzentas pessoas em uma intensa e indescritivelmente rica jornada de trabalho que estendeu-se por duas semanas. Nessa ocasião, uma de nossas integrantes, a Sheila, incorporou a equipe do projeto Elevaciones, na qual desempenhou o papel de documentar em foto e vídeo o aprimoramento de uma cadeira de bipedestação infantil.

A cadeira de bipedestação é uma cadeira de rodas com superfícies de apoio articuladas, de modo a permitir que seu ocupante coloque-se em pé, sem a necessidade de apoios adicionais. Pode ser utilizada, por exemplo, por pessoas com paraplegia e que realizam tratamento médico para recuperar a capacidade de ficar em pé. Esse tipo de cadeira permite que o corpo humano gradativamente reacostume-se a assim permanecer, facilitando muito a mobilidade de quem a utiliza. Nos tratamentos tradicionais, a pessoa é movida da cadeira de rodas para um tipo de prancha (geralmente encontrada apenas em centros médicos), o que exige que uma ou mais pessoas a carreguem. Com uma cadeira de bipedestação, o esforço físico demandado pela mudança de postura fica todo com o próprio equipamento, com pouca ou até nenhuma necessidade de acompanhamento de outra pessoa.

Cadeira de Bipedestação Infantil. Foto: Sheila Uberti, arquivo pessoal. CC-BY-SA

No mundo todo são pouquíssimas as empresas que fabricam esse tipo de cadeira, com preços a partir de R$8,000,00, o que evidentemente a torna inacessível para a população comum e até mesmo para a maioria dos centros médicos. Durante o LabicAR, o projeto proposto por Jonas Ramirez (designer mexicano que já trabalhava com modelagem de equipamentos de apoio ortopédicos) tinha como missão prototipar uma cadeira de bipedestação infantil de baixo custo e de código aberto (que tivesse sua documentação disponibilizada gratuitamente na internet, replicável e adaptável conforme as especificidades técnicas e orientações médicas do contexto na qual venha a ser produzida). Na equipe estavam mais 8 pessoas (do Brasil, da Argentina e da Colômbia), com conhecimentos e experiência em design industrial, comunicação, fisioterapia e medicina. Ao longo das duas semanas de LabicAR, trabalhamos num espaço compartilhado com os demais 9 projetos apoiados no mesmo evento – num ambiente e dinâmicas tão enriquecedoras que, para serem descritas, necessitariam de outra publicação. Também foram feitas ações de pesquisa e de trabalho manual no ILAR (Instituto de Lucha Antipoliomielítica y Rehabilitación de Lisiado) e na casa da família de Thiago, criança que, acompanhada da equipe médica do ILAR, testou a cadeira de bipedestação quando pronta.

Colaborar com a documentação de um projeto como esse foi uma experiência intensa de vários modos e desafiadora em tantos outros – o que só poderia resultar em aprendizagens complexas, tocando em aspectos pessoais também nos que envolvem expertises profissionais. Ser parte de projetos como esse é uma ação que inspira motivação e instiga a fortalecer a rede internacional de Laboratórios de Inovação Cidadã 🙂

A documentação do projeto Elevaciones (que também contou com o apoio de outro documentarista brasileiro, Erik Chierici) está reunida no site do Labic e pode ser acessada aqui.

Abaixo, o vídeo exibido na apresentação final do protótipo, ao final do LabicAR

Por dentro de um Laboratório de Inovação Cidadã

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