Nessa página você encontra sugestões de como artistas e outrxs profissionais autônomxs podem contornar digital e humanamente a quarentena recomendada frente ao COVID19 – e quiçá repensar seus planos de trabalho a longo prazo :]

O material foi redigido a partir da minha (Sheila) experiência de uns bons anos trabalhando com comunicação digital (tanto com estruturas quanto com conteúdos) e de algumas soluções complementares. Além de mim várias outras pessoas contribuíram, seja com suas dúvidas ou seja com a indicação de ferramentas e/ou conteúdos que possam enriquecer a pauta. É importante dizer que esta página está poderá receber atualizações, enquanto vou redigindo e complementando os tópicos com a descrição de cada um deles e até mesmo com a inserção de mais itens.

Meu objetivo aqui é mostrar um leque de ferramentas e de modos de organização que podem ser combinados entre si e formar diferentes esquemas. Cabe a cada pessoa ou grupo encontrar a melhor combinação pra si ;]

ASPECTOS TÉCNICOS

RECEBER DINHEIRO

Botões de doação e/ou de pagamento (ao final dessa página tem um exemplo) na página podem ser uma boa forma de passar o chapéu digitalmente. Em geral eles permitem que você selecione previamente um valor ou deixe em aberto para que cada pessoa escolha com o quanto quer contribuir. Podem ser incorporados no código da sua página (no caso de um website próprio) ou compartilhados por meio de um link ou ainda em formato QR Code. Sugiro que sejam usados como sinônimo de colaboração espontânea, e não como ingresso virtual – existem alternativas melhores pra esse caso e vou falar delas adiante).

Financiamento coletivo (FC, crowdfunding) também é um modo de receber valores de um público apoiador e/ou cliente. Em geral os prazos do FC são mais longos, então você precisa pensar em um plano de períodos mais largos. Ainda dentro do FC existem várias modalidades (pontual, de recorrência, match…). Você pode usar do FC tanto como meio de pagamento (e nesse caso as recompensas são a entrega dos seus produtos/serviços/apresentações) quanto como meio de receber doações espontâneas do público que quer incentivar seu processo de criação, sem que isso esteja vinculado a algum tipo de recompensa. Algumas plataformas de FC já contam com sistemas internos de gerenciamento de entrega de recompensas, e outras apenas disponibilizam relatórios sobre os valores arrecadados, cabendo a você essa logística em um ambiente externo.

A Loja virtual (também chamada e-commerce) pode ser uma alternativa pra aquisição de produtos e/ou serviços que tenham sua entrega vinculada à aprovação de um pagamento. Venda de ingressos de espetáculos online ou pacotes de serviços são os primeiros exemplos que me vêm à mente. Existem lojas virtuais prontas (como a Iluria) e outras que você pode configurar no seu serviço de site (como a Magento). Como toda loja virtual fica vinculada a um serviço de pagamento online, você tem que atentar para o quanto essa configuração vai exigir de esforço da sua parte. Mesmo que seja algo mais trabalhoso, pode funcionar muito bem pra grupos ou pra redes de artistas e outrxs profissionais autônomxs centralizarem seus produtos/serviços em um único endereço.

Velha e clássica Transferiência Bancária, hoje muito facilitada por links de cobrança de aplicativos. Tem pouco de automatização, mas pode ser vantajosa por morder baixos valores em taxas.

Seja qual for a modalidade de recebimento que você escolher, informe-se sobre as taxas, prazos, funcionalidades e aspectos técnicos de integração que essas soluções oferecem. Para cada tipo de trabalho e para cada organização vai existir uma melhor combinação de elementos. Busque entender o que funciona melhor pro seu caso e evite copiar soluções – não é porque elas deram certo pra outra pessoa/organização que o resultado também vai estar garantido pra você.

INTERATIVIDADE

Jitsi, me liga, tá? <3

Eu meio que sou apaixonada por um software multiuso pra comunicação de grupos em tempo real, o Jitsi <3. O Jitsi permite vídeochamadas com várias pessoas ao mesmo tempo, tem chat, tem compartilhamento de tela, as salas podem ser protegidas por senha, você pode configurar como as pessoas vão entrar na sala (se mutadas, se com a câmera desligada, se vão todas começar vendo a sua transmissão em destaque)… Ele é um software de código aberto, tem várias opções de configuração das salas, encoda pro YouTube (o jitsi na sua versão free grava as transmissões e as salva no seu DropBox, e você ainda pode encodar pro YouTube, por exemplo, e usar também esse segundo pra armazenar/baixar o vídeo) e pra acesso via computador não precisa de instalação nenhuma – basta abrir o link no navegador e sair usando. Idealmente para acesso via smartphone é legal ter o app instalado (tem Android e IOS), mas também se consegue usar pelo navegador mobile (basta trocar a versão pra computador). No dia a dia eu uso bastante ele pra reuniões de grupo e já usei pra eventos como fóruns online.
Nenhum jabá envolvido aqui ;]

Quando eu falo de acesso a páginas privadas, isso pode ser entendido de dois jeitos: o primeiro é sobre acessar páginas que sejam públicas mas que precisem de uma senha para que seu conteúdo seja visualizado e o segundo é sobre páginas que pra serem acessadas precisem de um login na plataforma nas quais elas estão hospedadas. Exemplo do primeiro caso: com ferramentas como wordpress (falo dele mais adiante, nos aspectos conceituais) você pode configurar muito facilmente a senha que quer atribuir a uma página – então pra visualizar o conteúdo que está ali a pessoa precisa apenas da senha. Ela não precisa se cadastrar no seu site, por exemplo. Já numa página privada do segundo caso, a pessoa precisa ter um cadastro na plataforma se quiser visualizar o conteúdo. O clássico exemplo é o facebook e o instagram. Você até consegue ter uma prévia, mas a experiência fica instável e comprometida (players de vídeos não vão funcionar, por exemplo).

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Calma, não é tão difícil quanto parece e funciona!

Dando um passo além e propondo aqui um exemplo: você pode criar a sua página no site, adicionar nela a descrição do seu evento (um show online, por exemplo) e ao final dela o botão de doação/pagamento de valor específico. O botão de doação pode ser configurado (verifique antes se o serviço que você escolheu permite isso) pra que, após a confirmação da transação, direcione o acesso a uma página específica – e essa página é aquela onde vai estar acontecendo a transmissão do seu show. De primeira pode parecer complexo, mas acredite: não é. E você ainda pode reaproveitar essa estrutura pra futuras apresentações, mesmo depois que o surto do Corona passar, viu?!

A captação de áudio e vídeo é outro ponto que merece atenção. Talvez valha investir em uma webcam com imagem HD e/ou naquela mesinha de áudio que vai intermediar a conexão do seu microfone externo com o computador. E peloamorrrrrr da deusa, lembre de testar antes de cada transmissão!

E fazer tudo pelo celular, tem como? Tem sim! O que vale observar nesse caso é se você vai precisar de mais alguém pra ajudar você com a moderação das salas de apresentação ou dos chats, por exemplo, enquanto você apenas faz a transmissão por celular. Muitos dos serviços mencionados aqui têm aplicativos mobile. Também preste atenção ao tempo de transmissão, pois smartphones costumam aquecer depois de alguns minutos em videochamadas.

ASPECTOS DE CONTEÚDO

Além de realizar apresentações, pense em outros tipos de conteúdo que você pode compartilhar com seu público. Mostre coisas da sua rotina, deixe claro que fazer arte também é trabalho (e muito!). Fale sobre seus processos criativos, responda perguntas, partilhe suas angústias…

Chame outrxs artistas pra colaborar com você – mashups inesperados podem chamar a atenção e atiçar a curiosidade do público. Criem desafios: se comprometam a realizar tal performance inusitada quando vocẽs alcançarem determinada arrecadação e por aí vai ;]

QUESTÕES CONCEITUAIS

Criação de sites próprios: não dependência de grandes plataformas.
Ao criar uma página ou site próprio que não esteja hospedado dentro de uma grande plataforma já pronta, você pode ter certa ampliação da circulação de seus trabalhos. Você também vai poder escolher a organização visual da apresentação dos conteúdos que quiser publicar – algo que não pode ser feito ou é limitado nas redes sociais mais populares (selecionar cor de fundo, tamanho das imagens, diagramação dos elementos, tipo e cor de fonte…). Também terá um alcance maior pelo fato de seu trabalho estar em um link público, disponível para qualquer pessoa com acesso à internet.

Por consequência você também vai ganhar autonomia suficiente para não depender apenas de redes sociais e de seus funcionamentos com fluxos de informação controlados [leia mais sobre o efeito bolha do facebook].
Alguns anos atrás eu montei um curso bastante prático sobre a criação de websites básicos pra quem quer uma ferramenta online, própria, de divulgação e mesmo de entrega de alguns serviços. Você pode ver mais informações clicando aqui.

Em termos bem práticos, eu recomendo a utilização de ferramentas como o WordPress.org (cuidado para não confundir com o wordpress.com, que está relacionado mas tem algumas limitações) e o HotGlue. Essas são ferramentas de gerenciamento e publicação de conteúdos e de funcionalidades (páginas, blogs, formulários de contato, páginas privadas…).

Você também vai precisar de um serviço para hospedá-las. Existem milhares desses. Eu, por exemplo, uso o serviço da KingHost, uma empresa brasileira que tem um painel bastante amigável e um bom suporte técnico (nenhum tipo de jabá envolvido aqui). Existem também os servidores ativistas, ligados a coletivos que fazem das comunicação autônima uma de suas lutas. Se você tem algum trabalho ligado a causas sociais/ambientais/políticas, é uma boa ideia pensar em usar algum desses serviços e ajudar a fortalecer estruturalmente esses grupos. Tem uma lista desses servidores aqui.
E, por fim, busque tutoriais – eles existem aos montes nas mais diversas plataformas e idiomas!

Aproveite para criar ou expandir seu mailling. Ao pensar nas soluções técnicas pra organizar seu sistema de trabalho online, tenha em mente que você pode salvar os contatos das pessoas num arquivo a parte (e-mail e whatsapp, por exemplo), garantindo assim mais canais para contatá-las. Ao usar plataformas como Facebook, YouTube e Instagram você acaba terceirizando sua agenda de contatos e dependendo dessas ferramentas pra interagir. Já parou pra pensar o que acontece se você fica sem poder acessar algum serviço desses? Ou mesmo se o seu público for desativando suas contas nessas plataformas? Aham, você acaba perdendo o canal de contato com essas pessoas! Em resumo, a dica é: crie um arquivo e salve contatos ;]

ASPECTOS EMOCIONAIS E PSICOLÓGICOS

Todo esse caos e desinformação sugam muito da nossa energia. Tente se organizar de modo a intercalar os turnos de trabalho com pausas pra meditação, alongamentos, Yoga, chás, um abraço em alguém da sua família… lembre que cuidar de você e da sua saúde mental também é questão de sobrevivência!

Pra algumas pessoas o trabalho remoto pode ser uma tortura, em função da quantidade de distrações que brotam ao redor: a louça na pia, a geladeira disponível a poucos passos, a cama ou o sofá tão tentadores ao alcance da vista, as crianças ou outros familiares zanzando e conversando no mesmo ambiente, a ausência de uma chefia vistoriando sua mesa… nessas condições, focar no trabalho pode ser um desafio imenso. Organização e disciplina (pra separar o momento de trabalhar dos demais) são essenciais.

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Em empresas de Tecnologia da Informação, por exemplo, já é bem comum que a maioria das pessoas trabalhe remotamente. Pra que isso funcione no longo prazo, existem diversas metodologias e softwares específicos (o que não significa que ferramentas comuns como Telegram e Whastsapp também não possam dar conta do recado!). O que todos eles têm em comum é a necessidade de uma organização prévia e uma sistemática de reportes, pra que o grupo mantenha-se alinhado rumo a seus objetivos.

Em resumo, minha sugestão é: elabore um planejamento semanal, liste previamente tudo que você precisa fazer e se empenhe em manter esse planejamento. Não desista no primeiro contratempo. Na próxima semana você cria um novo planejamento, baseado na experiência do anterior – mas não deixe de montar e tentar segui-lo! Conforme você vai avançando com as tarefas você vai riscá-las da sua lista e vai poder ver o quanto você “rendeu” ao longo daquela semana ;]

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Quarentena sim, trabalhando também!
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