
Habitar a internet deixa um grande rastro no território, na natureza e nos corpos; um impacto que pode ser violento e abusivo – mas podemos desenvolver uma relação mais atenta e sensível com as tecnologias digitais.
Na segunda parte dessa série, descobriremos algumas práticas de cuidado que podemos começar a adotar em nossas vidas. Essencialmente, o que buscamos é um princípio básico da sustentabilidade e permacultura: simplificar e reduzir.
Às vezes não vai acontecer com muita facilidade e às vezes vamos nos esquecer por completo ou vamos ter preguiça. Não se trata de ser impecável, mas sim de tentar de outra maneira.
Pense nisso de adotar novos hábitos digitais como uma experimentação. Transforme num jogo, busque seu próprio estilo e passe adiante.

Podemos configurar nossos dispositivos (computadores, tablets, celulares, etc.) para consumir menos bateria.
Para começar, evite executar tantos elementos na hora de navegar. Cada vez que você visita um site, está consumindo energia para exibir um bocado de arquivos. Alguns são necessários para que funcione o site e outros são totalmente dispensáveis.
Tanto nas configurações do seu navegador quanto através de plugins como (Privacy Badger e uMatrix, por exemplo) você pode desativar rastreadores, anúncios e outros tipos de códigos. Você também pode bloquear a reprodução automática de conteúdos multimídia.
E tem mais: algo bem simples, que é reduzir o brilho da tela a 60-80%, faz uma boa diferença no consumo de energia, e ainda ajuda a descansar a vista.
E por fim, procure saber como ativar o modo hibernação de seu dispositivo. Não há motivos para mantê-lo ligado quando não o está usando, certo? Programe para entrar hibernar depois de certo tempo de inatividade ou sempre que você necessitar.

Principalmente em nossos dispositivos móveis, nos acostumamos a usar aplicativos de busca (como o do Google) em vez de usar os navegadores web (como Firefox, Chrome, Safari) para navegar. E quando usamos um navegador, costumamos fazer buscas pela barra do endereço dele, muito mais vezes do que ir diretamente para o endereço ou abrir nossos favoritos.
Cada vez que realizamos uma busca, colocamos a trabalhar todo um complexo de máquinas (servidores, roteadores, antenas) e robôs (“rastejadores”, algoritmos). Uma busca faz com que seu dispositivo encaminhe uma pergunta a uma cadeira de servidores espalhados pelo mundo e que, ao chegar ao servidor do buscador, alguns programas de computador se ativam para devolver a você a resposta.

Imagine que cada vez que você queira saber onde estão seus sapatos, você chame a alguém, e essa pessoa chama outra pessoa para que todas procurem e isso se repete inúmeras vezes… cansativo e desnecessário na maioria das vezes, hein?
Você pode salvar seus sites favoritos nos marcadores do navegador, colocar atalhos para os endereços na tela inicial do computador ou dispositivo móvel, usar a função de autocompletar na barra de endereços ou ainda exercitar sua memória e decorar alguns endereços.

Os dados sobre consumo de recursos em função do uso da internet são muito variáveis, mas coincidem sobre o streaming ser uma das atividades mais recorrentes, e portanto uma das que mais deixa rastros. YouTube, Netflix, Amazon, Instagram, Facebook são, entre outras, as plataformas mais ativas da atualidade.
A diferença pra um download normal, em que você baixa o arquivo uma vez e o mantém em seu dispositivo, é que no streaming é como se você estivesse baixando de modo temporário o mesmo arquivo cada vez que o acessa.

Assim como quando você faz buscas, o streaming também põe em atividade uma orquestra de máquinas que consumem recursos energéticos. Além do mais, justamente porque uma grande parte da indústria de conteúdos opera sob uma lógica capitalista, as plataformas buscam gerar com você uma relação de dependência e exclusividade: elas não se interessam que você tenha livre acesso para baixar livremente os conteúdos.
Por exemplo, se gostamos de escutar certo disco ou de assistir um tutorial, podemos baxá-los usando ferramentas (como sites, programas ou plugins de navegador) que nos permitem converter links de plataformas em arquivos de áudio .mp3 ou vídeo .mp4.
Dessa maneira, simplificamos muitíssimo o processo todo e damos um descanso para a internet (e reduzimos o impacto do consumo de recursos, claro!).

Ainda que seja desafiador reunir vontade para começar fazer faxinas, depois sempre vem um grande alívio e a sensação de que valeu a pena. Acontece o mesmo no mundo digital. Em geral temos documentos e pastas por todos os lados, em lugares dos quais nem sempre nos lembramos.
Quando guardamos arquivos na internet, eles não vão a uma dimensão paralela etérea: eles ocupam sim espaço físico em um “galpão” que fica aberto 24 horas por dia, 365 dias por ano, consumindo eletricidade, desgastando máquinas e poluindo a natureza. E a quantidade de centros de armazenamento de dados não para de aumentar!
Guardar arquivos “na nuvem” é útil para que possamos acessá-los de qualquer lugar ou compartilhá-los com outras pessoas, mas muita dessa informação fica inútil depois de certo tempo e passa a ser esquecida. Algo tão simples como gravar arquivos em HDs ou pendrives, como apagar informações inúteis tanto de e-mails quanto de redes sociais, faz sim bastante diferença.
Se mantivermos sites, plataformas ou outros tipos de infraestrutura de internet (algo comum entre empresas e organizações), podemos aliviar nossa bagagem revisando bases de dados sem uso, eliminando arquivos desnecessários, entre outras tarefas de manutenção.
Importante dizer: além de ser uma ação sustentável, eliminar informação inútil traz benefícios de segurança digital para pessoas e organizações.

Agora já sabemos que os arquivos na internet consumem recursos para lá permanecer e que podemos fazer limpezas de vez em quando. Na hora de enviar e publicar conteúdos na internet, também podemos fazer diferente. Para começar, podemos prestar atenção na quantidade de coisas que publicamos: por exemplo, selecionar 3 fotos em vez de publicar um álbum inteiro onde estão fotos repetidas ou não muito boas.
Alguns formatos pesam mais do que outros: um vídeo é mais pesado que uma foto, um áudio é mais pesado que um texto. Nos acostumamos tanto com as múltiplas mídias que esquecemos que nem sempre elas estiveram disponíveis. Mas e se escolhermos a simplicidade de vez em quando?
Muitas das plataformas de redes sociais e aplicativos de chat já compactam os arquivos que enviamos, mas podemos aprender a fazer isso por conta própria também – não é difícil! Alguns programas já dão a opção de compactar um arquivo ao exportá-lo.
Comece adquirindo o hábito de descobrir quanto pesa um arquivo antes de publicá-lo (clique com o botão direito ou procure um botão de três pontinhos e busque as propriedades da imagem). Por exemplo, uma foto de média resolução não precisa ter mais que 800 pixels de largura, e salvando-a em formato JPG em qualidade 80% não se nota queda de definição, ainda mais em uma tela de celular.
Também existem ferramentas online que nos ajudam a compactar arquivos, bem como plugins que fazem esse trabalho de otimização para sites.

Parece que vai acabar o mundo se nos desconectarmos por alguns momentos, mas não vai, pode manter a tranquilidade! Talvez seja bom avisar alguém com antecedência, se tivermos algumas responsabilidades familiares ou profissionais: avise que você só vai se ausentar por um tempo, mas que você vai sim voltar – e com uma sensação de alívio.
Desconectar-se regularmente por algum tempo é um método muito eficaz tanto para reduzir o impacto da internet quanto para praticar o autocuidado.

Alguma vez você já enviou uma foto com a senha da internet, para uma pessoa que estava bem ao seu lado? Ou alguns arquivos para seu próprio e-mail..? É bem provável que sim. Usamos a internet quase como se fosse a única maneira de compartilhar informações, mas lembre-se: existem muitas outras maneiras! Por pendrives, HDs, bilhetinhos, nossa voz, redes locais e comunitárias…
Não precisamos depender da internet e consumir tantos recursos cada vez que queremos enviar uma informação a alguém. Solte a criatividade e busque outras maneiras. Além do mais, tudo que trafega pela internet está exposto a possíveis falhas de privacidade – em alguns casos, compartilhar informações offline é o modo mais seguro 😉

Para baixar a versão desse conteúdo em PDF (e espalhá-lo poeticamente por aí), clique aqui.
Veja a primeira parte aqui.